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China: quando conheci o dragão que acordava

data-filename="retriever" style="width: 100%;">A China aumentou as importações de carnes e estaria sendo responsável pela alta de preços por aqui, junto com outros fatores. O dragão oriental já se tornara principal parceiro comercial e dos maiores investidores no Brasil.

A China é das mais antigas civilizações, sempre com papel relevante. Pioneiro em muitas evoluções, império isolado e diferente, despertando mistério e curiosidade. Há quem sustente que os chineses influíram no Renascimento europeu através dos contatos mercantis, da viagem de Marco Polo e de suposta caravana oriental que teria aportado à península itálica com tecnologias inovadoras que inspiraram Da Vinci e seus contemporâneos (tese discutível de Gavin Menzies no livro 1434).

Em 1949, a vitória revolucionária de Mao Tsé-Tung tornou-a República Popular da China, dirigida pelo Partido Comunista, que logo se afastou do hegemônico soviético e liderou dissidência internacional.

Visitei a China em 1980, numa delegação brasileira a convite oficial e, portanto, sempre ciceroneados por gentis assessores locais. Tudo que discutimos com eles foi respondido na principal reunião que tivemos com o vice-primeiro ministro...

Aportei pleno de ansiedade. Estava preparado para civilização diferente e surpreendente. A realidade sacudiu-me com inesquecíveis lições. Revi posições, mudei conceitos, compreendi o pragmatismo. A China da época era igualitária, multidão de pobres com saúde e educação e dificuldades em moradia, milhões de túnicas mais ou menos uniformizadas, um mar de bicicletas (ainda não era permitida a propriedade individual de automóvel), rigidez nos costumes, severo controle da natalidade. Tinha passado pela Revolução Cultural de Mao que radicalizara políticas e, após sua morte, em 1976, e afastados a viúva Jiang Qing e aliados, assumira Deng Xiaoping com força e persistência construindo os alicerces da notável mudança e modernização que aconteceriam a seguir. Estive lá nesse mágico momento em que a mudança começava, sem que fosse possível vislumbrar o tamanho dela. Escrevi à época que havia uma classe média querendo irromper.

Lembro com carinho das faces rosadas das crianças com boa saúde e dos chineses fazendo ginástica nas ruas à noite porque dormiam em rodízio nos lares exíguos. As lições pragmáticas e figuradas soam até hoje para mim: não basta a Constituição dizer que todos têm direito a moradia, precisa material de construção e meios; se a moda mudar e acrescentar um botão em cada uma de 700 milhões de túnicas, quantas fábricas precisariam criar?

Nos 40 anos que se seguiram, a China tornou-se a segunda potência econômica, hoje defende globalização e livre comércio diante de um Trump protecionista, desigualou a sociedade, possibilitou fortunas particulares e fez em tempo menor o progresso ocidental com um enorme passivo ambiental. Usufrui e paga elevado preço por isso. Dizem que o meio ambiente é a próxima revolução deles.

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